Enquanto ocorria a audiência pública na manhã desta quinta-feira (25) na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), 3 pessoas cometeram suicídio no Brasil e 199 pessoas se suicidaram no mundo. O dado de que um suicídio ocorre a cada 40 segundos no mundo e a cada 45 minutos no Brasil foi trazido ao debate pelos participantes com o objetivo de instruir os senadores para oferecerem um projeto de lei criando a Semana Nacional de Valorização da Vida.
A iniciativa da audiência partiu do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que já havia apresentado um projeto em 2016, mas o retirou da tramitação por um vício de injuridicidade. Na nova proposta, a ideia é de que ele viesse a ser o relator. O senador avaliou que a audiência foi extraordinária e que os senadores terão o desafio de fazer com que o futuro projeto se torne lei e que a imprensa faça a divulgação devida, especialmente no momento de crise política pela qual passa o país.
— Estou aqui há 24 anos no mandato de senador. Terminarei em 2018 e nunca passei aqui por uma crise como essa. Nós estamos num momento político muito difícil. Então nós queremos que a própria crise política não afete o que nós queremos fazer diante desse desafio de termos um suicídio a cada 45 minutos no Brasil. A sociedade não tem a dimensão do problema e nós temos o imenso desafio de fazer com que ela possa se mobilizar em função disso — disse o senador.
Garibaldi também pediu que Marta Suplicy (PMDB-SP) relate o projeto, pois a considerou mais capacitada do que ele. Marta afirmou que será um trabalho conjunto e sugeriu realizar uma reunião entre os Ministério da Educação e Saúde e Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), para que possam entender a dimensão do problema e já organizarem uma primeira atividade na Semana Nacional de Valorização da Vida, que deve ser fixada em setembro.
— Eu fico satisfeita com isso porque é um tema sobre o qual me debrucei muito na vida, que eu gosto. Suicídio, especificamente, não é um tema que eu tenha me debruçado, mas pessoas, como psicóloga, é algo que realmente me interessa muito — afirmou Marta.
Crescimento no Brasil
Segundo informou o coordenador geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro Júnior, o Brasil é signatário do Plano de Ação em Saúde Mental, feito em 2013 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em que se busca a redução da taxa de suicídio em 10% até 2020. No entanto, nos últimos dez anos, o número de suicídios no país tem aumentado, o que tem preocupado o governo.
Segundo a psiquiatra Maria Dilma Alves Teodoro, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), o Brasil é o oitavo país no mundo em número de suicídios. Entre 2000 e 2012 houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes, sendo mais de 30% em jovens. E se estima que, até 2020, haverá um incremento de até 50% no número anual de mortes por suicídios.
— Isso tudo equivale a aproximadamente 32 casos por dia, 1 a cada 45 minutos, levando em consideração que a gente ainda tem a subnotificação e essa subnotificação está muito vinculada ao preconceito com relação ao portador de algum transtorno mental — afirmou.
Segundo Quirino, o governo estabeleceu três ações para tentar conter esse avanço. São elas a ampliação e estruturação da Rede de Assistência Psicossocial, um acordo de cooperação técnica entre o Ministério da Saúde e o Centro de Valorização à Vida (CVV) e a organização do Plano Nacional de Prevenção ao Suicídio.
Suicídio entre jovens
De acordo com o diretor da APBr, Carlos Guilherme da Silva Figueiredo, no mundo, 1,3 milhão de jovens morrem por conta de causas evitáveis ou tratáveis, sendo a primeira causa os acidentes de trânsito (11,6%) e a segunda, o suicídio (7,3%).
Carlos informou que a partir de 1995 aumentou muito o índice de suicídio entre os jovens. Entre 1996 e 2002, 66% dos suicídios em São Paulo se deram na faixa etária de 5 a 44 anos. Segundo ele, os principais fatores de risco para o suicídio dos jovens são o afastamento dos pais biológicos, o divórcio dos pais, o suicídio dos pais, parentes próximos ou amigos, a dependência química e, para as meninas, entre 15 e 19 anos, a gravidez precoce e o aborto.
— Seriam alguns fatores para chamar a atenção, em especial, a mudança de comportamento tanto na escola quanto em ambiente familiar. Deixar de participar das atividades em sala de aula, isolar-se mais, desinteresse em atividades que antes a criança e o adolescente consideravam prazerosas e assim como outros sintomas de depressão — afirmou.
Suicídio e saúde mental
O coordenador geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro Júnior, afirmou que quase 100% dos casos de suicídios estão relacionados a algum transtorno mental. Ele explicou que a atenção aos pacientes que apresentam transtorno mental é uma das iniciativas mais importantes na prevenção do suicídio.
— Nós temos o Caps, que é o Centro de Atenção Psicossocial. Existe um crescimento importante do número desses centros de atenção. Hoje no Brasil temos quase 2.500 Caps, que atendem pacientes com transtornos mentais graves. E agora nós estamos trabalhando para que haja uma qualificação melhor desses pontos de atenção psicossocial para que esses pacientes sejam tratados de maneira apropriada — afirmou
Mídia e Redes Sociais
De acordo com Carlos Figueiredo, a mídia tem reportado com mais constância e de maneira mais adequada o suicídio, não dizendo o modo como são feitos os suicídios. No entanto, o diretor de Educação da SaferNet, Rodrigo Nejm, foi por uma divulgação sensacionalista da imprensa, que o conhecido jogo da Baleia Azul, originado de uma notícia falsa na Rússia, ganhou proporções maiores no Brasil.
- O Baleia Azul foi uma fake news que se alastrou de forma bastante séria no país a partir da cobertura sensacionalista de alguns veículos de imprensa. Infelizmente, no Brasil, quando o fenômeno chegou aqui, foi justamente por uma cobertura irresponsável de alguns veículos, que, de certa forma, inauguraram o fenômeno aqui, do ponto de vista de que o tal Baleia Azul ganhou materialidade justamente por conta do efeito contágio — afirmou Rodrigo.
Os participantes também ressaltaram o papel do seriado 13 Reasons Why, que trata do suicídio de uma jovem, quanto à necessidade de colocar o assunto em pauta e de se quebrar o tabu sobre o tema. No entanto, eles ressaltaram que a série tem um lado ruim que é mostrar o passo a passo do suicídio realizado pela protagonista.
— O suicídio de fato é contagioso. Por isso, divulgar o ato suicida é prejudicial, mas falar sobre suicídio não. É preciso que o assunto depressão, o assunto sofrimento, o assunto dificuldade sejam pautados — afirmou o psiquiatra e vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, Thiago Blanco Vieira.
Centro de Valorização da Vida
A coordenadora de comunicação do Centro de Valorização à Vida (CVV-Brasília), Leila Herédia, afirmou que a instituição existe há 55 anos e hoje atua com cerca de 2 mil voluntários em 70 cidades do país. Os voluntários são pessoas de qualquer formação, que passam por um treinamento e precisam dispor de quatro horas semanais para ouvir o outro.
— A gente funciona como um pronto-socorro emocional. A pessoa precisa conversar, precisa dialogar, precisa falar das angústias que a estão incomodando naquele momento, seja de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, ela pode ligar para o CVV, que vai ter, a qualquer momento, nos 7 dias da semana, nos 365 dias do ano, um voluntário para ouvi-la — informou Leila.
Leila informou ainda que a maioria das pessoas que ligam para o CVV é jovem e, no caso das meninas, está ocorrendo muito a automutilação.
— A automutilação em geral começa na faixa entre 12 e 13 anos e se estende até os 30 anos. Entre as motivações, apontadas por eles também (OMS), está uma dor, uma angústia insuportável — disse Leila.
Uma das sugestões para ampliar o acesso ao CVV, além da divulgação é determinar a gratuidade da ligação. O CVV também tem postos de atendimento pessoal e pela internet. O número para ligar é o 141 e o site é http://cvv.org.br.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
*Publicação conjunta do Prof.Sérgio e da Profª Juraci Venâncio
A FAMÍLIA ROQUE BASTOS na busca de conhecimentos em prol da VIDA.
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