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sábado, 4 de maio de 2019

OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2019: Alunos dos Ensinos Fundamental II e Médio- Prof.Sérgio Luiz de Mello, Atividade aos alunos dos 8ºAnos A,B e C e 9ºAno C.

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GÊNERO CRÔNICA- 8ºANOS E 9ºANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL II

Leitura e interpretação de: A última crônica- Fernando Sabino 
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar de êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas escolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante da esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então meu último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem crônica. Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que preparam para algo mais que matar a fome. Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se estivesse aguardando a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha o pedaço de bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe em uma bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim. São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia de bolo. E enquanto ela serve a coca-cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menina repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns pra você...”. Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
(SABINO, Fernando. A companheira de viagem. Ed. Rio e Janeiro, Record, 1987. p.169-71.)


ATIVIDADES DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO

 1ª questão De acordo com seus conhecimentos e com o texto (mas sem copiá-lo), complete o diagrama que se segue.
 FATO:
 FINALIDADE :

 2ª questão
 Releia: A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. EXPLICITE a perspectiva que assusta o cronista.

 3ª questão 
Eu pretendia apenas escolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. EXPLIQUE se o cronista encontra, no episódio observado, “algo que faz da vida algo mais digno de ser vivido”.

 4ª questão 
O texto em estudo pode ser dividido em 3 partes: 1ª parte introdução 1º parágrafo 2ª parte desenvolvimento Do 2º ao 5º parágrafo 3ª parte conclusão último parágrafo Releia a segunda parte, e INDIQUE:
 a) os personagens principais;
 b) o personagem que é apenas observador dos acontecimentos;
 c) os personagens secundários.

 5ª questão
Dentre as possibilidades apresentadas a seguir, a que teria motivado o cronista a produzir um texto a partir do fato observado seria
A) A alegria da menina diante do bolo e da coca-cola. 
B) A satisfação do pai com a comemoração. 
C) O contraste da situação e seu significado.
 D) A realização de uma festa de aniversário no botequim. 
E) A indiferença do garçom frente ao fato presenciado. 

6ª questão
 Releia: "De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim abre num sorriso."
 Levante, com base no texto, uma hipótese que explique:
 a) o fato de o pai sentir-se perturbado e constrangido ao perceber-se observado;
 b) o fato de, após o momento de constrangimento, o pai sustentar o olhar e sorrir.

 7ª questão
 Há no texto algumas marcas que denunciam preconceito. Indique duas delas. 8ª questão Liste três características do texto em estudo que nos permitem classificá-lo como crônica.

8ª questão
Transcreva do texto um fragmento que denuncie a indiferença, até mesmo certo desprezo, do garçom em relação à família que se sentou discretamente aos fundos do estabelecimento.

9º questão
Posicione-se, em um parágrafo argumentativo, em relação à falta de sensibilidade do garçom.

10ª questão
Registrar uma opinião a respeito da história apresentada nessa crônica.


fonte: http://www.conteudoseducar.com.br/conteudos/arquivos/4039.pdf




A FAMÍLIA ROQUE BASTOS incentiva mais e mais a leitura e a produção escrita, tal como a participação de seus alunos em concursos culturais, como a Olimpíada de Língua Portuguesa- Escrevendo o Futuro- 6ª Edição-2019.

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